sexta-feira, setembro 7

Os Elementos da Narrativa – O Espaço




Na minha publicação anterior sobre os elementos da narrativa falei do tempo, um elemento importante que ajuda o narrador a estruturar a história, e falei também que o tempo se sobressai ao espaço, mas em que consiste exatamente o espaço?

No tempo, o enredo se desenvolve em camadas temporais, já que os acontecimentos que o compõem podem ser transmitidos ao leitor quando o narrador achar melhor. Esses acontecimentos sucedem-se num lugar específico, ou seja, o espaço resume-se no lugar onde a história se desenrola e onde as personagens vivem e interagem com os outros elementos da narrativa.

O tempo é um elemento invisível aos nossos olhos, ao contrário do espaço, e tem uma função imprescindível para a história. Acredito que por diversas vezes estudaste o tempo e o espaço juntos (na escola, por exemplo) e existe uma razão para isso: os dois elementos estão ligados um ao outro. Mas eu decidi falar-te deles separadamente, e antes de avançar preciso explicar-te o que quis dizer com invisível.

Repara: numa peça de teatro, uma cadeira cai, ouve-se a madeira a chocar com o chão do placo e em seguida, o silencio ou até mesmo o nervosismo de uma ou mais personagens. Nesta pequena cena, presenciaste o espaço onde a cadeira estava, viste-a a cair e onde caiu e ouviste o som que ela fez, mas não viste nem contaste o tempo. Estou certa ou errada? É isso mesmo que estás a pensar! O espaço é algo físico, tocável, visível aos nossos olhos, mas o tempo, mesmo que o contes, não o podes ver nem sentir, é logo invisível aos olhos e aos sentidos.

A relação que o tempo e o espaço têm é esse: complementam-se harmoniosamente para contar uma história e talvez seja essa a razão que leve ao seu estudo em conjunto.
Mas isto foi apenas um aparte… 😉

Tal como disse, o espaço é o lugar onde a história se desenrola, onde as personagens vivem e interagem. E por mais difícil que possa parecer, acredita, possui uma grande influência sobre a história. O espaço afeta as personagens, por exemplo, tornando-as alvos de decisões, atitudes e pensamentos diversos. Um personagem pobre se sentirá constrangido num lugar requintado, certo?

E tal como as personagens, o espaço também recebe características especificas – se for um quarto possui umas, se for uma floresta possui outras, se for uma aldeia possui outras, se for uma cidade outras… Todos os lugares possuem características únicas, como se fossem as suas próprias personalidades.

Quando narramos um espaço fictício, ou seja, criado por nós, ele deve possuir também as suas próprias características, mas deves ter em conta o mundo real. Numa história narrada em alto mar, com cardumes de peixes e pescadores e a tudo mais a que tem direito, será estranho encontrar uma cama ou uma televisão acesa, certo? Mas não é uma regra geral, pois na ficção tudo é possível e acredito que tenhas entendido onde eu queria chegar – cada lugar deve possuir lógica na sua criação e descrição.

E ao falarmos do espaço, o ambiente também é importante distinguir, constituindo-se num dos integrantes deste elemento da narrativa. Mas a que se refere o ambiente? Se focaste a tua mente numa floresta onde a natureza cresce vigorosamente, estás um pouco longe da sua definição real…

O ambiente resume-se nas características morais, culturais, socioeconómicas e psicológicas do espaço onde as personagens vivem – grupos sociais, a posição que as personagens ocupam na sociedade, conjunto de crenças, valores, costumes e tradições.

Portanto, o ambiente não é fundamental para estruturar a história, mas um elemento modelador, ou seja, dá vida ao espaço existente na história.

Entre as várias funções que possui, destacam-se algumas, como:
  • um influenciador, já que pode influenciar os comportamentos, os pensamentos e as decisões das personagens – a religião, por exemplo, influencia as crenças das personagens;
  • um caracterizador, já que pode atribuir características especificas de personalidade às personagens, indiretamente, pela composição física do espaço – num quarto onde as cores predominantes são o branco e o preto podemos concluir que o dono do quarto gosta de cores neutras – e pode também atribuir características a acontecimentos – se um quanto está totalmente revirado significa que pode ter sido assaltado.
  • um desvendador, no caso das histórias de suspense e policial, já que pode fornecer características, situações e/ou pistas para a resolução de um conflito – uma faca manchada de sangue irá fornecer o ADN da vitima e as impressões digitais do assassino.
  • um conflito, já que pode entrar em contradição com as personagens por apresentar certas características contraditórias à personalidade viva, tornando-se neste caso o próprio problema da história – um lugar cheio de pessoas será um problema para alguém com demofobia.

O clima também possui um papel importante na criação e caracterização do espaço, seja ele real ou fictício. Um dia ensolarado permitirá visualizar algo que provavelmente não é visível num dia de chuva ou nevoeiro, por exemplo.

O clima tem o poder de influenciar as personagens, tal como o ambiente, sejam nas suas atitudes, pensamentos, decisões e neste caso específico, no seu estado de espirito. Estar feliz ou triste pode ser influência do tempo que está la fora, por exemplo.

Antes de dar por terminado este elemento da narrativa, quero deixar estas três definições. Espero que te ajudem.


Espaço Físico
Corresponde ao lugar real onde se passa a história, seja ele exterior ou interior. Ex: sala, cozinha, rua, floresta, montanha, etc.
Espaço Social
Corresponde à posição e ao conjunto de características sociais que a personagem adquiriu ou já possuía; traços sociais. Ex: politico.
Espaço Psicológico
Corresponde às vivências, pensamentos, memórias, sonhos e reflexões que a personagem possui e que caracteriza o ambiente onde está inserida. Ex: memórias da sua falecida mãe.




Bem, por hoje é tudo. 😉
Um abraço e até à próxima.


Borboleta Voadora
😊😊😊

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