sexta-feira, agosto 31

Os Elementos da Narrativa – O Tempo




“O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem! O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.”


Sim, o tempo, o maior inimigo da humanidade… Nunca vivemos o suficiente…!
Acredita, o tempo é um grande antagonista, pois nunca temos tempo para fazer o que queremos ou planeamos, e as nossas escolhas estão quase sempre ligadas a ele, seja para casar, para ter o primeiro ou segundo filho, para comprar uma casa, para pagar uma dívida, tudo acontece em função do tempo que temos!
Quantas vezes já olhaste em volta e culpaste o tempo por algo que aconteceu ou iria acontecer? Ou a ti próprio(a) por não seres tão rápido(a) quanto deverias? Muitas vezes…, não é? Mas não vale a pena “perdermos tempo” a pensar nisto.
E deves estar, neste momento, a perguntar-te por que razão comecei por esta reflexão estranha sobre o tempo… A resposta é muito simples! Os acontecimentos de uma história surgem em função do tempo, tal como as nossas escolhas. Tudo existe em função do tempo…, e é sobre ele que vou falar a seguir!

O tempo está presente em tudo o que fazemos, seja para narrarmos uma história seja para ela mesma evoluir. Tudo acontece em função deste elemento da narrativa, que estabelece a duração do enredo e marca a sequência cronológica dos acontecimentos.

O acontecimento central da história, aquele que está ligado à ação primordial do enredo, desenvolve-se e evolui à medida que outros acontecimentos menos importantes são concluídos e dão origem a outros. Sem o tempo, estes acontecimentos surgiriam totalmente desconectados e confusos, tornando a compreensão limitada ou nula.

Os acontecimentos, tal como citei na minha publicação sobre o enredo, surgem na história numa ordem que o narrador acredita ser a mais viável para a narração da mesma. Se pensarmos um pouco, podemos concluir que o tempo ajuda o narrador a estruturar a história, estabelecendo uma fácil compreensão do enredo por parte do leitor.

Para conseguires identificar o tempo que está presente numa narrativa, num livro qualquer que pegues ai da tua estante, deves em primeiro lugar conhece-los, e entre alguns que aprendi decidi distinguir três, aqueles que achei serem os mais importantes: o tempo histórico, o tempo cronológico e o tempo psicológico.

O tempo histórico é o tempo mais conhecido e também o maior de todos, já que está associado aos acontecimentos narrados na história, ou seja, os acontecimentos são narrados dentro do tempo histórico. Ao escreveres uma história, é importante que tenhas em atenção a época que escolheste – ela irá ditar muitas das suas características (a Idade Média é diferente da Idade do Bronze, por exemplo). E mesmo que escolhas uma época que não exista no nosso mundo, como 2000 anos no futuro, é fundamental que ela esteja relacionada com o nosso tempo real, de maneira a que haja uma contextualização. Caso a história aconteça num mundo fictício, criado por ti, e a época seja consequentemente fictícia, essa mesma contextualização deve ser criada.
Lembra-te: não existe presente sem passado e nem futuro sem presente. O tempo deve, imprescindivelmente, possuir uma concordância lógica e concreta.

O tempo cronológico é aquele que se relaciona com a ordem natural dos acontecimentos, isto é, os acontecimentos surgem na história na ordem pelo qual aconteceram, sem haver qualquer mudança de posição neles. Este tipo de tempo aparece frequentemente nos livros clássicos.
Repara: se desejas contar o que aconteceu num dia qualquer de uma determinada personagem deverás começar logo pela manhã, pelo momento exato em que ela acordou e deverás terminar com ela a adormecer – neste caso particular, os acontecimentos serão narrados ao leitor no momento exato da sua ocorrência e ordenados pela passagem dos segundos, dos minutos e das horas desse dia.

O tempo psicológico, por outro lado, está associado à vontade do narrador ou de uma certa personagem, já que os acontecimentos narrados são transmitidos ao leitor da maneira e na altura que determinarem ser a mais correta. A ordem dos acontecimentos não está relacionada a um enredo linear – não aparecem na história no momento da sua ocorrência, como acontece no tempo cronológico, e sim quando o narrador assim o escolhe ou deseja. Numa história em que o tempo associado é o tempo psicológico, todos os elementos da narrativa estão ligados à consciência daquele que está a narrar (narrador), submetendo-os a escolhas e a pensamentos interligados.
Vamos a um exemplo: o protagonista está acompanhado por uma outra personagem e está a relatar uma distração engraçada que teve nessa manhã enquanto fazia o pequeno-almoço, e de repente decide contar algo semelhante que lhe aconteceu dias antes – os acontecimentos são narrados sem ordem cronológica, mas estão ligados de alguma maneira.

Quando a ordem textual dos acontecimentos não é linear, ocorre a utilização de certos recursos que possibilitam esta alteração temporal. Entre eles estão o flashback ou analepse, a prolepse, a elipse e o resumo.

O flashback  ou analepse é uma das características mais conhecidas do tempo psicológico, que consiste numa volta no tempo para contar algo que aconteceu no passado, um acontecimento distante do momento em que se situa a história. Normalmente, é utilizado para recordar algo que aconteceu, importante para o prosseguimento da narrativa. Este recou no tempo é facilmente identificado com o período que é colocado no início, no meio ou no fim dessa mesma passagem (cena).
Exemplo: Três dias antes, a Carlota havia apanhado os morangos com o seu avô.

A prolepse é o oposto da analepse, consistindo num avanço no tempo da narrativa para revelar ou antecipar acontecimentos.
Exemplo: A Catarina olhou-a e compreendeu-a apenas quando o seu pai lhe contou a verdade sobre o seu passado. Ela era, definitivamente, igual à sua amiga.

A elipse consiste numa exclusão de um determinado intervalo de tempo, normalmente extenso, ou seja, a eliminação de acontecimentos que ocorreram mas que seriam banais para a evolução do enredo. É um processo bastante relevante na criação narrativa, pois o narrador jamais poderia relatar, honestamente, tudo o que aconteceu na vida de um ou mais personagens – tudo aquilo que é insignificante para a história deve ser eliminado!
Exemplo: Depois daquela conversa sufocante, Maria não falou mais com a sua mãe. Não queria dizer-lhe mais nada. E assim se passaram 10 anos até que (…).

Por fim, o resumo baseia-se num sumário de uma parte da história, que levaria muito tempo para contar em pormenor, mas que em nada influenciaria a história. Fica então abreviado a um pequeno intervalo de tempo que demoraria a ocorrer.
Exemplo: Dai a alguns dias, Manuela voltou a jogar, levantando o astral da sua equipa.

Antes de dar por terminado este elemento da narrativa, quero sublinhar algo muito importante: o tempo é fundamental para contar a história. Sei que estou a ser repetitiva, mas nunca é demais lembrar a importância que cada um dos elementos tem na narrativa… Enquanto o espaço é fundamental para mostrar a história, mas quanto a ele terás de esperar!
Mas não te preocupes, vereemo-nos em breve…
😉😉😉


Um abraço e até à próxima.


Borboleta Voadora
😊😊😊

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