segunda-feira, outubro 5

Conto – Avaliação




Então, estão a gostar da chuva? ☂☔
Eu entendo se não estiverem, mas tudo é preciso, e tal como a natureza, nós também precisamos da chuva. Nestes dias, provavelmente, devem sentir-se desmotivados e sem forças para continuar, mas acreditem, estes dias também são importantes. Pessoalmente, é nestes dias que paro para pensar sobre tudo o que esta a acontecer na minha vida. 😊 E sabem qual foi a conclusão a que eu cheguei?
Sim, preciso de mudar algumas coisas, aquelas que não estão a correr bem…
Vamos caminhar um dia de cada vez, e fazer as mudanças necessárias.


Conto – Avaliação


Naquele momento, Carlos tremia e suava frio. Sentia-se sempre assim quando tinha alguma avaliação ou quando iria receber alguma. Gostava de estudar, mas só aquilo que realmente queria aprender, e quando era algo que não chamava a sua atenção, estudar tornava-se uma tortura. Queria que fosse diferente, mas não conseguia.
Para o seu irmão gémeo, Armando, o estudo era como saltar num trampolim, fácil e sem problemas. Tinha sempre as melhores notas, era o delegado de turma. Costumavam dizer que eles eram como a água e o azeite, apesar de serem fisicamente iguais.
Carlos tinha sempre notas baixas, o oposto do seu irmão.
- Desta vez, não correu mal – disse o professor de história à turma –, mas podia ter corrido melhor.
O professor de história era um homem alto e barrigudo. Possuía óculos quadrados e cabelos longos, presos por um elástico. Costumava usar umas calças de bombazine com suspensórios, mas naquele dia as calças de ganga apertadas dava a sensação de que a qualquer momento iriam arrebentar.
- Talvez tenha um encontro – cochichou o Armando, depois de reparar na aparência diferente do professor. – Ele é solteiro, não é?
- Sim, acho que sim.
Carlos levantou o olhar e reparou que o professor distribuía os testes e fazia os seus habituais comentários, talvez numa tentativa de incentivar melhores resultados.
- Se tiver mais uma nega, o pai vai tirar-me a playstation… Que saco! Eu não tenho culpa de não gostar de história! É uma seca!
- Também não gosto, mas faço um esforço – disse o Armando. – Como é que te correu o teste? Foi assim tão mau?
- Pessimamente! Não consegui lembrar-me das datas nem do nome daquele rei esquisito. Eu simplesmente não consigo!
- Tem calma, eu convenço o pai a não tirar-te a playstation – disse o Armando, a sorrir. – Podemos jogar assim que chegarmos a casa, antes do pai chegar do trabalho!
- O quê!? Isso é uma despedida antes de ficar sem ela?
- Claro que não!
Em pouco tempo o professor de história aproximou-se da mesa dos gémeos. Primeiro olhou para um e depois para o outro, talvez numa tentativa de distingui-los. Suspirou derrotado, e começou a falar para os dois:
- Armando, pouco tenho a acrescentar, a tua nota foi excelente. Cometeste um erro ou dois, mas é satisfatório – disse o professor, com orgulho. – Carlos, desta vez superaste-te, até fiquei admirado, mas não foi o suficiente. Tens de estudar mais para alcançares o teu irmão. Ou pelo menos, para a positiva.
O professor entregou os testes e retornou à sua secretária. Carlos já esperava a sua nota negativa, mas não pode deixar de pensar que esteve tão perto da positiva.
- Mais um excelente para a coleção, não é Armando? – comentou o Rodrigo, da mesa ao lado. – Que sorte!
- Não, não tive excelente. Desta vez, a matéria era difícil. Não é, Carlos?
- Sim…
Carlos suspirou e guardou o teste na capa. Ele sabia que seria sempre aquele que teria de estudar muito para obter resultados, enquanto o seu irmão estudaria apenas para passar o tempo.
«Não tenho sorte nenhuma, que saco!», pensou com tristeza.
- Então, Carlos, não fiques assim – disse-lhe a Ana, ao virar-se para trás. – De certeza que o professor vai fazer recuperação. Eu ajudo-te a estudar!
- E a mim, não ajudas? – perguntou o Armando, na brincadeira.
- Precisas de ajuda? – questionou a Ana, ao colocar a mão direita sobre o coração, numa tentativa frustrada de se mostrar surpreendida. – Tudo bem, eu posso falar com a Filipa, talvez ela queira ajudar-te…
- Não, obrigada, não preciso de ajuda! – exclamou o Armando, atropelando as palavras com o nervosismo. – Eu realmente não preciso!
Carlos abafou o riso e depois empiscou a Ana, que também fazia um enorme esforço para não desatar a rir às gargalhadas.
- Ana, eu preciso, ajudas-me?
- Sempre, Carlos!


FIM…
(Borboleta Voadora, Portugal, 05-10-2020)



Um abraço e até à próxima.


Borboleta Voadora
😉😉😉

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