segunda-feira, outubro 8

Conto – Um Sopro no Parque




Vamos a mais um conto?
Espero que gostem…
😉😉😉


Conto – Um Sopro no Parque

Tudo parou no tempo. Os pássaros, as árvores, as flores, o vento. Tudo parou, sem razão aparente. Olho o relógio do parque, lá no seu alto. Estranho… Os segundos contados pelo longo ponteiro negro seguem o seu rumo aos minutos, e os minutos às horas. Enlouqueci? Ou estarei a sonhar?
Ao longe, ouve-se duas vozes distintas que se interligam numa conversa incompreensível. O que dizem uma à outra?
Levemente, ouço o vento a assobiar numa melodia que só ele é capaz de entender, mas… tudo contínua quieto. A água pura que outrora se ouvia já não borbulha na fonte, o cheiro doce das flores espalhadas pelo manto verde negam-se a deliciar-me com o seu aroma memoriável, as vozes entusiasmadas das crianças a brincar não se ouvem mais…
Será que o vazio se apoderou de mim? Terá chegado a hora?
As duas vozes continuam a ouvir-se, mas… do que falam? Das suas culpas? Dos seus medos? Das suas histórias? Fecho os olhos e ouço, ouço com o coração aberto. A preocupação recusa-se a deixa-la, apodera-se da sua essência como um parasita, sugando gota a gota do seu vigor. A outra voz, leve e fina, corajosamente tenta encoraja-la a persistir, a não desistir de algo…
Os seres humanos são muito interessantes! Vivem, sobrevivem e morrem, não são muito diferentes de mim, mas têm algo que os torna diferentes, especiais. Mas o que será?
O vento… já não consigo ouvi-lo mais, mas o aroma adocicado das flores e as vozes alegres das crianças, por fim, deixam-se ouvir… Ah, já entendi. A água também decidiu despedir-se de mim…
Todos os dias nascem e desaparecem vidas. Também houve o dia em que eu nasci, no seio de uma família numerosa. Hoje, sozinho e velho, deixo de existir.
As duas vozes, afetuosamente, choram e compreendem-se, e eu, escondido por entre estes arbustos vigorosos vejo a verdadeira, a única razão dos seres humanos serem tão especiais. Sim, são, mas à sua maneira.
Sorrio. A luz decide, por fim, apagar-se, vagarosamente. Não há arrependimentos nem tristezas. Fiz o que quis, fiz o que pude por aquela família que deixo sem experimentarem a dor da minha partida. Vou, lentamente, sem culpas…
A voz grossa altera-se, aflige-se na sua alma. Chama pelo meu nome… Chora… Aperta-me… Oh, sim! Familiar, quente, aconchegante, um homem crescido, com um bom coração… Sou-te grato, meu menino pequeno e chorão! A minha alma queima por dentro. Não, não chores! Eu fui feliz, muito feliz!
A vida que me deste foi a melhor que podias dar: as brincadeiras, os mimos, as guloseimas, a companhia, a compreensão, o teu sorriso alegre e às vezes triste…
Sim! Sem remorsos, sem tristezas. Sorri, sorri por mim…
Deixa estar, eu faço isso por ti.

FIM…
(Borboleta Voadora, Portugal, 08-10-2018)



Um abraço e até à próxima.


Borboleta Voadora
😊😊😊

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